... e deixaram-na entregue aos lavradores da primeira aldeia que toparam. A aldeia demorava às abas do Monte Córdova, serra que se empina e ondeia com as fragosissimas encostas até à vila de Santo Tirso.
In A Bruxa de Monte Córdova, pp 178-Camilo Castelo Branco

12 de setembro de 2011

Guarda-soleiro... sim, ainda assobiam pelas ruas


Fiiiuuuuiiiii, fiiiuuuuiii....
O som estridente do assobio do guarda-soleiro fez-se ouvir hoje, dia de feira em Santo Tirso.
Apeado, num caminhar ausente de pressas, de bicicleta pela mão ao seu lado direito e a roda de esmeril montada numa caixa de madeira no suporte sobre a roda traseira, lá ia anunciando a sua presença pelas ruas.Um ou outro rosto de pessoas de meia-idade mostrava surpresa por pensarem que a profissão do homem que conserta louça com agrafos (pratos, malgas, etc ), guarda-chuvas, amola facas, navalhas, tesouras e outras ferramentas está extinta. Engano, esta é a prova que não.
O homem denota, claramente, o aspecto de quem está no outono da vida. Na cabeça um boné descolorido, veste calças de cor escura sem festo ou baínha deformadas de tanto e continuado uso, camisa com o colarinho gasto pelo uso mas limpa, nos pés umas sapatilhas já deformadas, de rosto fechado e tisnado por muitos sóis e sem sinais de alegria, com rugas profundas que indiciam preocupações... traz estampada no rosto  a amargura do tempo que vive.
Fala-se tanto em crise que será por isso que esta profissão que muitos dão como extinta - e até nem consta das estatísticas – reaparece com alguns “toques” de modernismo? Sim, porque este guarda-soleiro aparece apetrechado em bicicleta com rodas de btt. Já lá vai o tempo da grande roda em madeira acoplada a andarilho de fita que a fazia funcionar, já não tem que pedalar para fazer funcionar a roda de esmeril é, isso sim, a ação de braço que a faz funcionar e aguçar a ferramenta: tesouras, facas, etc. Já não traz  guarda-chuva de onde tirava as varetas para compor outros e certamente também não traz agulhas para remendar o pano, porque... agora os guarda-chuvas além de serem ao preço da chuva não se remendam por serem de nylon. Será que ainda conserta a louça? Ainda haverá quem se dê à preocupação de poupar algum dinheiro dando-a a consertar? Não me parece.
E, dou-me conta que que parei no passeio e esbocei uma patética exclamação: - há quantos anos não via um guarda-soleiro.
Ele lá seguiu rua abaixo assobiando a espaços mais ou menos certos, soprando o seu instrumento, quase ao jeito de harmónica de beiços, em direção a S. Bento da Batalha, provavelmente tomando como rumo alguma das localidades mais próximas, Lousado, Trofa... quem sabe dizer o seu destino?
Fiiiuuuuiiiii, fiiiuuuuiii...

P.S. – Em tempos mais prósperos (?!) os guarda-soleiros faziam a sua aparição com as primeiras chuvas depois do verão, por altura das festas a Nª Sª de Valinhas ou a Santa Eufémia  que geralmente ocorriam e ainda se festejam entre o 2º e 3º domingos de Setembro

4 comentários:

  1. OLÁ
    Pois aqui tb havia antigamente...no outro dia ouvi o assobio característico dos amoledores e estranhei,há muito tempo q não ouvia.

    beijos e lambidelas da malta
    pituxasilva

    ResponderEliminar
  2. Eles por norma trazem a chuva, como no livro do Camilo " A morgadinha dos canaviais" se não me engano.
    Cá por Lisboa é habito passarem nesta altura, mas lá na terra antigamente para além se tudo o que disse, também capavam os porcos recém desmamados.
    bj eugénia

    ResponderEliminar
  3. Boa tarde António,

    Tenho recebido alguns mails seus os quais tenho respondido, não tem recebido?
    Vou lhe dar outro mail "essesteves@sapo.pt"

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  4. Amoladores, chamavam-se em Coimbra, quando eu era pequena. Às vezes sinto-lhes a falta.

    ResponderEliminar