... e deixaram-na entregue aos lavradores da primeira aldeia que toparam. A aldeia demorava às abas do Monte Córdova, serra que se empina e ondeia com as fragosissimas encostas até à vila de Santo Tirso.
In A Bruxa de Monte Córdova, pp 178-Camilo Castelo Branco

27 de maio de 2014

Cebola



Arrancamos a  cebola de inverno ( também conhecida por cebola de dias curtos), plantada nos primeiros dias de Novembro, deixada alguns dias ao sol  para encascar e secar. Ao contrário da cebola de verão,  habitualmente colhemos  com a rama ainda verde,  antes de ocorrer o  espigamento.

São inúmeras as utilizações culinárias  como também as propriedades terapêuticas da cebola.

Monte Córdova  é terra com profundas e arreigadas tradições desde as danças e cantares, passando por lendas, usos e costumes,  ensalmos para quase todos os males a serem ditos por quem os sabe e também procuram nas plantas a cura para muitos desses males. É disso exemplo o  antigo costume de, quando uma criança nascia com pouca vida, espremia-se-lhe cebola na boca.

8 de maio de 2014

Favas

É tempo de favas.
Excelente legume para uma alimentação saudável e para quem não é apreciador... não há como experimentar.

3 de maio de 2014

S. Gonçalo em Monte Córdova



A devoção a S. Gonçalo remonta seguramente ao séc. XVI  alargando mais e mais no século seguinte, a ajuizar pela quantidade de capelas edificadas para o culto a este santo, sobretudo no Norte do País.
Já lá vai o tempo ( na década de 70 do séc. XX ainda era bem viva semelhante prática) em que , sobretudo nos meses de verão e logo pelas primeiras horas da manhã, víamos grupos de romeiros - ranchos de pessoas como então se dizia - que para esses lugares de culto se dirigiam a pé a cumprir as suas promessas. Este era o pretexto mas a alma popular albergava a vontade de ajuntamento  em espalhar pelo pó dos caminhos a alegria contida e reprimida  em consequência das agruras da vida e da dureza do trabalho e, para isso, não podia faltar a concertina, o bombo, a pandeireta, a viola, a gaita-de-beiços, o reque-reque e até as pinhas tinham lugar no acompanhamento musical e festivo. Era então que surgiam os improvisos dos descantes ao desafio, daí que muitas das quadras e rimanços robusteceram e foram permanecendo no ideário popular, geralmente da “lavra” deles mas atribuídas a palavras delas, de fazer corar muita gente, corporizando  anseios e desejos  como se só o santo lhes pudesse valer…
                                        “S. Gonçalo de Amarante
                              Casai-me que bem podeis.
                              Já tenho teias de aranha
                              Naquilo que bem sabeis.”

                                         S.Gonçalo de Amarante   
                                          Santo bem casamenteiro
                                         Antes de casar as outras
                             A mim casai-me primeiro.”

                            “Oh! Meu senhor São Gonçalo
                              Aqui tens duas donzelas
                              Uma já não é bem moça
                              E a outra já falam dela."

                             “São Gonçalo não quer missa
                               São Gonçalo não quer esmola.
                               São Gonçalo quer uma festa
                               De rebeca e de viola.”

                              “São Gonçalo de Amaramte
                                Feito de pau de azevinho.
                                Dai-me força no vergalho
                                Como porco no focinho.”

                                                         Etc, etc, etc, etc,etc

Em Monte Córdova acorrem muitos romeiros à sua capela setecentista de arquitetura simples e rústica, com  talha policroma de estilo joanino, de nave única, com sineira de ventana em arco.

A maioria das capelas de culto a S. Gonçalo estão situadas  nas rotas e nos caminhos jacobeus percorridos por peregrinos que demandavam Compostela e, tal como quase todas as outras,  esta em Monte Córdova - lugar da Costa -, foi edificada a pequena distância da estrada medieval que outrora atravessava esta freguesia de Santo Tirso.
Hoje dia 3 e amanhã 4 é tempo de festa e romaria por cá a  S. Gonçalo. È uma festa que nos encanta e sabe a povo.
Por se situar na encosta da  aldeia de Cortinhas, tomámo-la também como nossa que é onde se encontra a nossa casa e  Horta de Codeçais.
A propósito da inventiva popular, ocorre-me partilhar uma “quase” lenda que noutros tempos se falava  e  que a capela foi construída porque as mulheres de Monte Córdova seriam bastante feias (!!!) e não arranjavam marido facilmente, daí a bondade do pároco de então proceder à construção da dita capela.
A maledicência tem destas coisas, porque se de facto assim chegou a ser… é justo dizer que nos tempos atuais a mulher cordovense é tão ou mais jovial, elegante e bonita como qualquer bonita mulher portuguesa.

                                                                                         António Assunção